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quarta-feira, 12 de março de 2014

Aurora

Hoje sou uma velha conhecida entrando pelo misterioso labirinto das vidas que desconheço, sou um amontoado desajeitado de fragmentos não vividos do universo que resolveram se libertar do abismo que eram as zonas calmas e adentrar timidamente a louca e vil atmosfera do cosmos. Estou no momento mais doloroso da águia, arrancando meu bico antigo e minhas garras enferrujadas para que, apesar de todo o sofrimento, novas armas possam vir. Cheguei á conclusão de que o desconhecido é curioso demais para ser deixado para trás, guardado na gaveta como algo que não interessa, porque me interessa e muito. Há um instante crucial nas nossas vidas, em que a liberdade bate tão forte na porta do estômago que se tu não abrires, te mata. E o que te resta - e me resta - é espiar pela janela e ver que não vai ter jeito mesmo, é hora de fazer as malas e dizer adeus para a velha vida, é hora de arrancar as cascas e afiar o bico novo, porque apesar de lindo, o voo pode ser fatal. Me passam centenas de pessoas, de cenas, momentos e oportunidades e, apesar do medo ser meu maior inimigo, é também a linha tênue que me separa da total insanidade. Hoje eu estou em frente á porta aberta da gaiola que foi minha casa a vida toda, estou no momento do dia em que é cedo para sair e tarde para ficar. Frio na barriga antes da queda livre e meu último vislumbre é a beleza da aurora.

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